28 de nov. de 2011

Considerações sobre a merda


O texto que vou postar hoje é de autoria do missionário Adriano Estevam, da JOCUM.
Quero te encorajar a, por um instante, deixar de lado o nojo que a palavra causa. Leia até o fim e reflita.



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Considerações sobre a merda

Merda.

Isto seria o suficiente para espantar a primeira leva de leitores. Parariam por aqui mesmo na primeira linha. Um texto que começa com merda não pode dar em boa coisa...

Mas propositadamente resolvi abordar o assunto da merda, ou talvez, a merda do assunto. Isto seria suficiente para espantar uma segunda leva de leitores : os que são impedidos de pensar em merda, e em qualquer outro assunto, apenas por causa da religiosidade pudica e malcheirosa de nossos dias.

Mas se você foi capaz de resistir a dois parágrafos, de merda, acredito que juntos podemos refletir um pouco sobre um dos mais incompreendidos mistérios de nossa breve humanidade : nossa própria merda...

Com toda certeza a merda é o mais antigo indicador "psico-social" da história humana...Se o cidadão é um canalha, é mais ruim que merda debaixo da unha; Se não é bom, é um merda; se deu errado, deu merda; se foi a bancarrota, foi a merda; se é pra ir as últimas consequências, que vá a merda; se é um derrotado, é um merdinha; se alguém estragou tudo, jogaram merda no ventilador, e pasmem, se contra as expectativas o azarão deu sorte,  é um cagão! Vejam só : para os artista, desejar merda ao companheiro pode até ser uma expressão de boa sorte antes de entrar no palco...

A merda está em todo lugar, e não é raro fazer mais diferença que muitos cristãos. Nem sempre é possivel saber quando existe um crente no lugar, mas com certeza é possivel saber, de longe até, quando há merda no recinto. Sua presença é denunciada em qualquer situação. Se você sentiu o fedor, é bem capaz de ter pisado nela, e se não pisou, ainda, alguém por perto atolou o pé. E o fedor é desagradável o suficiente para fazer perceber que naquele local existe algo que não deveria estar ali.

Tem gente que tem nojo de merda. Da própria, e principalmente da dos outros.. tem ânsia de vômito quando vai ao banheiro. Evita tocar até no assunto. Já tem gente que vive de analisar a merda alheia, pra, quem sabe, salvar o seu dono de uma merda pior. Que profissão heróica... e não creditada. Sim, porque no fim das contas você agradece, quando muito, ao seu médico que apenas olhou o laudo, e que recebeu uma boa grana pra isto.

Ouvi alguém dizer algo semelhante a isto uma vez e acho que tem realmente um certo fundo de verdade: Agências Missionárias como a JOCUM tinham que ter um ministério de "Detecção de Merda". Uma voz profética inconfundível que denunciasse a sujeira instantâneamente. Alguém que se levantasse quando o discipulador da Eted quiser aplicar uma "disciplina de silêncio" nos alunos, pra dizer, "irmão, esta disciplina não vai adiantar merda nenhuma!", ou pra dizer ao líder da base, quando ele quiser perdir dinheiro emprestado pra comprar um terreno pra Missão : "meu irmão, isto é quebra de princípio, vai dar merda..."

Deus foi muito gentil em permitir que ao nosso olfato, pecado não cheire como merda, do contrário este mundo seria inabitável. Talvez este seja exatamente o nosso problema: não ter nojo do nosso pecado, como temos nojo de nossa merda. Se tratassemos pecado como pecado, como tratamos merda como merda, aprenderiamos como Deus se sente com o nosso pecado. Especialmente porque a merda é o resultado do processo da vida... O alimento é ingerido, nutre, é processado e expelido. É natural, e involuntário... como ja disse a Rita Lee "tudo vira bosta". Já o pecado não é resultado nenhum processo natural ou involuntário. É escolha, decisão voluntária podre e suja.

Deus sempre ensinou a separar uma coisa da outra. Em Levítico 23:13, ensinando a importância da higiene no arraial, Ele ensina o povo a levar consigo uma pá para cobrir os excrementos, evitando assim a proliferação de doenças no meio do povo. Já sobre o pecado, outra ocasião Deus chama o profeta Ezequiel e diz : "Tú comerás como bolos de cevada, e a vista deles a assarás sobre o excremento humano (Ez. 4.12). O profeta reclama que nunca sequer tocou em coisa imunda, que dirá degustá-la. O Senhor então ordena ao profeta que ao invés de fezes humanas, use esterco bovino. Isto numa maneira de, entre outras coisas, simbolizar o estado de depravação da nação. O culto continuava dia após dia, embora o coração do povo estivesse corrompido. E os sacrifícios chegavam ao Senhor como oferta fétida, suja e enojante.

Embora nos ame com amor eterno, nosso pecado lhe causa asco, repulsa. E mesmo assim, quando ainda completamente envolvidos no asco, no pecado, ele nos ama, e sacrificialmente escolhe enviar Jesus, o filho para no limpar do estigma da podridão. Somente alguém que ama pode entender este mistério. Vi um pai recentemente levar sua filhinha no colo. Ela estava completamente suja, e a fralda cheia de cocô, que escorria pelas suas perninhas miúdas.

Ele gentilmente procura a torneira mais próxima, tira as roupinhas sujas da criança e com muito cuidado coloca-a, ainda em seus braços, debaixo da água corrente. Com as suas mãos ele limpa cuidadosamente a sujeira. O amor do pai pela criança fazia aquele homem ignorar o asco. Ela era mais importante que o seu estado, porém ele jamais permitiria que ela continuasse como estava.

Foi assim que Deus fez. Em seus braços o sangue de Jesus nos lava do asco e podridão. O seu amor foi maior que o nojo do nosso estado de depravação.

No dia em que aprendermos a tratar o pecado como sujeira podre, aceitaremos trocar os trapos de imundícia de nossa justiça por vestes limpas, brancas sem mácula ou ruga, vestes que só Jesus pode dar. Neste dia sim, seremos igreja e noiva, espalhando o bom perfume de Cristo.
 
Que Ele nos ajude.
Adriano Estevam

25 de nov. de 2011

Pecado em progressão

Há algumas semanas, ouvi uma palavra sobre o Salmo 1 e comecei a pensar em como a gente às vezes negligencia versículos e capítulos mais conhecidos da Bíblia. O interessante é que os decoramos justamente por terem um conteúdo importante, mas quase não se abordam esses textos em mensagens. É como se todo mundo soubesse o suficiente...

Creio que o versículo mais decorado da Bíblia seja João 3:16. Mas sabe quantas vezes eu ouvi uma mensagem sobre esse texto? Nenhuma. E sobre o Salmo 23? Também não.

Achei curioso a pessoa escolher falar do Salmo 1, e comecei a meditar nele também. Foi daí que veio o maná de hoje...

Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
Salmos 1:1

É interessante notar os três verbos das ações que, segundo o salmista, não são praticadas por esse tal homem bem-aventurado. "Não anda", "não se detém" e "não se assenta".

Sabe, não existe pecado grande ou pequeno para Deus. Mas, enquanto humanos, reconhecemos que existem coisas que ferem mais do que outras, ou que são mais graves do que outras. Nas atitudes que tomamos, nem sempre refletimos sobre os efeitos que terão depois de algum tempo, nem para onde podem evoluir, mas a verdade é que, uma vez que abrimos a porta para o erro, só a misericórdia de Deus pode fechá-la.

Começamos com "pecadinhos", que às vezes estão presos apenas aos pensamentos. No dia seguinte, não achamos que repetir a dose vá fazer tão mal. No outro mês, é um hábito diário. E em um ano estamos escravizados por um pecado que se tornou maior do que nós mesmos.

Às vezes, em nosso caminhar, ficamos tentados a andar junto dos ímpios e seguir seus conselhos uma ou outra vez. Depois, já mais hipnotizados pelo mundo, nos detemos, paramos diante das trevas, admirados, seduzidos. Em um outro momento, nos assentamos e nos entregamos. Admitimos a entrada total do pecado nas nossas vidas, e seu domínio sobre nós.

Se você está andando segundo o conselho dos ímpios, resista à tentação de parar para ouvi-los. E se você já parou, ore por misericórdia para que Deus te livre antes que você se assente na roda dos escarnecedores.

1 de nov. de 2011

Altares vazios

Sempre gostei de história e, particularmente, da história das civilizações clássicas - Grécia e Roma antigas. Acho incrível o fato de aquelas sociedades terem conquistado tanto domínio apenas com a arma do conhecimento. Eram lugares que prezavam pelas ciências e pela sabedoria, onde as pessoas eram incentivadas a buscarem seu desenvolvimento intelectual e artístico, onde havia lugares de discussão sobre a vida, as relações humanas, os direitos... Imagino a cabeça dos gregos e romanos antigos eferverscendo de conhecimento e de vontade de conhecer mais.

A Bíblia narra uma história que se passou em Atenas, um dos berços da cultura ocidental. A situação aconteceu quando o apóstolo Paulo foi discursar no Areópago - a reunião dos membros da aristocracia ateniense. Ali estavam os homens mais influentes e sábios daquela civilização, gente realmente importante e tratada com privilégios muito particulares. A Bíblia descreve assim:

E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: "Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos. Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio."
Atos 17:22 e 23

A ousadia dessas palavras me fascinou desde a primeira vez que li o texto. Como alguém que sempre admirou tanto aquela cultura, nunca imaginei que um cidadão comum pudesse falar daquele jeito com pessoas tão nobres! Mas não é o modo inteligentíssimo como Paulo falou que se destaca nessa passagem. É a sabedoria inspirada pelo Espírito Santo pra mostrar aos Atenienses uma realidade que eu também entendi: Há, em cada um de nós, um desejo por Deus que só pode ser preenchido pelo próprio Deus.

Mesmo sendo admirados por todo o seu conhecimento, aqueles homens tiveram que admitir que, apesar de todos os seus deuses, ainda havia uma lacuna. No auge da sua sabedoria, eles não se sentiam completos, saciados, inteiros, porque o lugar que pertence a Deus estava vazio na vida daquelas pessoas.

Todos nós somos assim. Temos um altar vazio. Se não encontramos o único que pode preenchê-lo, o único digno de adoração e louvor, passamos o resto de nossas vidas tentando encaixar outras coisas nesse altar. É daí que vêm os pecados mais escravizantes, como a idolatria. Ficamos dependentes de uma adoração irracional, para tentar convencer a nós mesmos de que estamos plenos. Por que será que as pessoas "mudam" tanto de religião? Por que tem gente experimentando de tudo, de qualquer seita? Por que se ouve tanto falar em "força superior"?

Como crentes, nós precisamos enxergar que as pessoas estão gritando, chorando pra que seus altares sejam preenchidos por Deus. Mas elas não sabem disso! E isso precisa mexer conosco, nos angustiar, nos fazer sentir obrigados a mudar essa história. A dar um testemunho tão contundente a respeito do Senhor, que elas percebam que é isso que falta em suas vidas.

Que nosso objetivo seja que fazer com que, na vida dessas pessoas, o Senhor passe a ser um Deus conhecido, adorado, exaltado como Ele merece. O único capaz de preencher nosso vazio.

E deixo vocês com a parte seguinte do discurso inspirador de Paulo...

O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;  nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; e de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação;


Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.


Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens.  Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.