18 de fev. de 2015

Verifique o endereço

Eu sou uma das poucas pessoas que eu conheço que ainda enviam cartas. Pra mim, há algo especial em sentar-me diante de uma folha ou cartão postal e colocar meus sentimentos ou desejos no papel para alguém que está em meu coração. E que frustração é pra mim quando uma carta não chega! Me lembro de uma vez em que estava em um país distante (pra variar...) e escrevi um cartão para a minha família. Eu estava vivendo dias de descobertas incríveis, e saber que aquele envelope levaria para meus pais e irmãos um pouco do sentimento que eu queria dividir com eles me trazia algum conforto. Acontece que a carta nunca chegou. Às vezes penso no que pode ter acontecido. Ela se perdeu? Alguém a roubou? Será que eu acertei o endereço?

Será que eu acertei o endereço?

Sabe aquelas vezes em que dá tudo certo? O livro de Esdras narra algo assim. Quando ele arregaçou as mangas para reconstruir com o povo de Judá o templo do Senhor em Jerusalém, uma coisa impensavelmente incrível aconteceu. Uma coisa que os livros de História omitiram, mas que o livro da história mais importante do mundo - a Bíblia - conta com clareza: três reis persas (Ciro, Dario e Artaxerxes), nenhum deles sendo servo de Deus, deram carta branca para os judeus prisioneiros na Babilônia não só voltarem para a sua terra, mas também levarem consigo todo o ouro, prata, madeira e animais que precisassem para essa reconstrução.

Ciro falou, "o Senhor me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém". (1:2)
Dario falou, "o que for necessário para a construção, dêem ao povo de Judá todos os dias". (5:9)
Artaxerxes falou, "tudo que se ordenar, prontamente se faça para a Casa do Deus dos céus". (7:23)

Esdras não havia implorado. Nem ele nem os que vieram antes dele. E quando Artaxerxes lhe enviou a carta com sua aprovação, Esdras escreveu a resposta de agradecimento. Mas o remetente não foi o rei. Ele disse:

Bendito seja o Senhor, Deus de nossos pais, que tal inspirou o coração do rei,
para ornarmos a Casa do Senhor, que está em Jerusalém. (7:27)

Esdras não se iludiu com a aparente benevolência do rei que deu permissão à construção do templo. Ele sabia que aquele era um favor não de Artaxerxes, mas do Senhor do Universo através dele. 

Sabe, toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança sem sombra de variação (Tiago 1:7). E como é fácil às vezes esquecer disso e dar crédito a pessoas ou circunstâncias pelos presentes de Deus para nós!

Ao ser bem recebido em uma casa, você certamente não agradece à construtora ou ao fabricante da mobília que você usou ou da comida que comeu pela hospitalidade. Você agradece aos anfitriões. Da mesma forma, não podemos deixar de reconhecer quem verdadeiramente promove tudo o que é bom e de bem em nossas vidas.

Gratidão é beleza e nobreza. Não deixe de manifestá-la a quem merece e está ao seu redor. Mas ao enviar os agradecimentos por aí, não se esqueça do destinatário mais importante: o Pai das luzes.

1 de dez. de 2014

Docinho de festa

Aqui em casa, nós somos verdadeiras formigas. Todos loucos por doces. Pra ser bem honesta mesmo, a gente detona é tudo!, mas os doces têm sim um lugar especial. E há uma categoria ainda mais importante: os docinhos de festa. Na minha família nós temos quase que um pacto velado sobre eles. Se alguém vai a uma festa de aniversário ou casamento, por exemplo, essa pessoa tem a obrigação moral de trazer docinhos para todos. Se forem bem casados, então, ai de quem não trouxer! 

[De repente, sinto que a quantidade de convites que fazem para a minha família vai reduzir bastante se muitas pessoas lerem esse post...]

Assim como em todos os sistemas de leis, nós de vez em quando experimentamos pequenas crises familiares quando nosso Tratado dos Docinhos não é respeitado. A infração mais grave é quando um desavisado (ou mal-intencionado...) come o docinho alheio. Quase imperdoável!


Lembro-me de uma vez que mamãe trouxe 4 bem-casados de uma festa (para três filhos. É claro que ia dar problema!). Eu não estava exatamente com vontade  de comer naquela hora (raro... muito raro) e deixei pra depois. E depois. E depois. Uns dois dias se passaram, até que certa manhã eu abri os olhos e meu primeiro pensamento foi correr pra cozinha e comer meu bem-casado. Obviamente, ele não estava lá. Comecei uma busca implacável pelo infrator, e depois de longos interrogatórios consegui identificar o criminoso. Dei uma choramingada e falei do quanto aquilo era injusto. Mas nada iria trazer o meu doce de volta. Não aquele! Nós poderíamos ir para outras festas e trazermos outros docinhos para casa. Mas aquele se foi.

Enquanto o bem-casado esteve em cima da mesa, me esperando, não me passou pela cabeça que ele um hora poderia não estar mais ali. Eu estava confiante na promessa de que ele era meu. Tão confiante que não senti a necessidade de tomar posse dele assim que chegou ao meu alcance.

Sabe, nós estamos sempre cheios de promessas das quais não tomamos posse. Coisas que podem ser nossas se a gente simplesmente for lá e "meter a mão". E quando digo que estamos "cheios" de tais promessas, é isso mesmo! Não são poucas. Elas foram escritas há milhares de anos, mas nunca perderam seu valor. Elas estão registradas no livro mais importante do mundo, e, apesar de bilhões de pessoas terem acesso a ele, seu conteúdo é completamente pessoal.

Eu estava indo dormir quando pensei nas tantas coisas que tenho alcançado ultimamente, com a permissão e bondade do Senhor. E rapidamente me ocorreu este pensamento: eu não deixo passar nada que eu sei que é - ou pode ser - de Deus para mim. Eu nunca duvido que as promessas que estão na Bíblia não são para a minha vida.

Muitas vezes, nós amamos e celebramos as coisas que o Senhor fala a respeito de nós na sua palavra, mas não temos ousadia para recebermos aquilo como nosso. Ficamos na esfera do sentimento, do admirar o docinho em cima da mesa e nunca comê-lo. As oportunidades passam, a gente se acostuma a viver mais ou menos - se sentindo mais ou menos feliz, alcançando resultados mais ou menos, tendo mais ou menos paz, arriscando mais ou menos. A mediocridade (calma, não é ofensa; significa apenas estar na média) é confortável. E não tem problema se você de fato quiser viver na média. Mas eu realmente acho que o natural para seres criados à imagem e semelhança do Deus do universo é sempre almejar ir além. Faz sentido?

As boas notícias são duas: em primeiro lugar, seus docinhos, nesse caso, não podem ser comidos por mais ninguém. O que Deus fez para você não se encaixa na história de qualquer outra pessoa. E a segunda e mais importante notícia é que não estamos competindo com os outros ao nosso redor sobre quem cata mais doce no final da festa. Tem docinhos inesgotáveis para todos nós na palavra do Senhor. Todas as coisas podem passar, mas ela permanece para sempre.

Dezembro é mês de festa o tempo todo. Estou aproveitando o embalo e compartilhando com vocês alguns dos meus docinhos preferidos - esses inesgotáveis eu não me importo de dividir :D Pode comer todos de uma vez. Não engorda e nem faz mal.


Mas, como está escrito:As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu,e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam.
1 Coríntios 2:9


Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades
segundo as suas riquezas na glória em Cristo Jesus.
Filipenses 4:19 


“Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti;
porque ele confia em ti.”
Isaías 26:3


Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens. E Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Mas, quando forem tentados, ele lhes providenciará um escape, para que o possam suportar.
1 Coríntios 10:13 “


Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente,
de boa vontade; e lhe será concedida.
Tiago 1:5 


Confie no Senhor e faça o bem; assim você habitará na terra e desfrutará segurança.
Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração.
Entregue o seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele agirá.
Salmos 37:3-5

Amém? Amém!

10 de nov. de 2014

Sobre ser outono

Onde eu moro, muito perto da linha do Equador, há praticamente uma estação apenas: verão. A temperatura varia entre quente e suportável, com chuva em alguns meses do ano. Quando tive a oportunidade de morar na Europa, uma das coisas que mais me animava era a perspectiva de viver quatro estações em um ano. Antes de conhecer o outono, eu suspeitava que ele era a minha estação favorita. Um dia, enquanto caminhava pela universidade, eu vi esta árvore:


As cores fizeram meu coração parar por uns segundos. Minhas suspeitas estavam certas: a beleza de nenhuma estação tiraria meu fôlego tanto quanto o outono tirava.

Hoje, enquanto eu vivo a primavera aqui no Brasil, o outono está bem longe de mim, no hemisfério norte. Por alguma razão, entretanto, foi pra lá que meu pensamento voou ao falar com o Senhor esta noite. Eu pensei nos meus milhares de planos, na forma como eu faço de tudo para que as coisas saiam de acordo com o roteiro que eu mesma escrevo. Pensei em como gerencio o meu tempo, querendo atender a tudo e a todos ao meu redor e às vezes sacrificando meu bem estar em troca do sentimento de ser super-heroína. Pensei no meu orgulho, na dificuldade que é voltar atrás em qualquer projeto pessoal. Pensei em como eu tenho uma necessidade de que as coisas aconteçam na hora em que eu acho que elas devem acontecer. Qualquer coisa além disso me traz ansiedade e sofrimento. E meu coração, que parou por uns segundos há mais ou menos um ano vendo as cores daquela árvore pela primeira vez, me falou:

- Você precisa ser outono.

Fiquei olhando para o papel em branco na minha frente, até que as palavras se organizassem claramente dentro de mim. Lembrei da lógica das estações, de que o cair total das folhas dá espaço para que a árvore passe pelas transformações que a permitirão frutificar e florescer. Lembrei que, quando o outono passa, a impressão que o inverno deixa é que acabou tudo. Que a planta morreu, que é impossível recuperar a beleza que um dia esteve ali. E quando a gente já se acostumou com a paisagem cinzenta, os primeiros sinais de verde começam a aparecer. É primavera. Flores e frutos se estendem até o verão. Até que os laranjas, vermelhos e marrons voltam a tomar conta do cenário, até que seja outono mais uma vez.

Pensei no tanto que quero produzir coisas novas e gerar resultado. No tanto que quero que as pessoas me vejam como referencial. Na minha busca constante por excelência. No quanto a ideia de fracassar em qualquer coisa é insuportável pra mim. No quanto é difícil abrir mão do que quer que seja pro Senhor agir em mim, virar meu mundo de cabeça pra baixo, me mostrar o que meu ego de primavera não me deixou ver. Eu gosto tanto do que faço, das folhas que conquistei para minha árvore, que me recuso a ser outono.

É preciso deixar a folha cair, ainda que isso signifique enfrentar os meses de inverno - em que as transformações são tão confinadas ao interior que quem vê de fora pensa que a vida se foi, que daquela árvores não se pode esperar mais nada. É preciso saber que o verde e os frutos da primavera não crescem sobre as carcaças do outono.

A condição da novidade de vida é que alguma coisa tem que morrer. Que morram, então, as folhas da minha vaidade, das minhas prioridades erradas, do meu desejo de perfeição que me cega pro crescimento interior que realmente importa e sem o qual eu não posso de fato oferecer algo contundente e transformador a quem está ao meu redor. Que morram os meus planos atropelados, as minhas soluções equivocadas e preguiçosas, as minhas verdades falsas sobre as pessoas e sobre mim mesma.

Qualquer tentativa de chegar a algum lugar pelas minhas próprias forças é vazia, contudo, o Senhor mandará de dia em dia a sua misericórdia, e de noite a sua canção estará comigo: a oração ao Deus da minha vida (Sl 42:8). Quero frutos e flores, mas muito mais beleza há em me lançar ser medo nos braços do Senhor e permitir que as folhas caiam. Se eu deixar que seja outono, ele traz a primavera. 


Eu preciso ser outono
Pra que Ele me encha de primavera.
Eu preciso que as folhas sequem
Eu preciso que as folhas caiam
Pra que a vida a pulsar em mim
Venha dele e dele somente,
Pra que a vida a recomeçar
Seja sua graciosa semente.
Eu preciso ser outono
Pra que flores e frutos
E beleza e vigor
Recaiam dos céus
Sobre mim novamente.

2 de jun. de 2014

Foco automático

Eu me lembro de uma vez em que esqueci de desligar o foco automático da minha câmera enquanto gravava um vídeo. A lente se mexia segundo a segundo, enquanto novas coisas era acrescentadas à cena o tempo todo. Cada vez que minha câmera encontrava um objeto ou movimento diferente, ela focava ali - e no momento seguinte sua atenção já estava em algo novo mais uma vez. Bem, quando minha câmera focava, seu ajuste era sempre correto. A questão é que ela nunca seguia o mesmo objeto ou movimento por muito tempo. A câmera tinha precisão apenas naquele segundo em que se apaixonava por algo diferente. De modo geral, ela estava confusa. No final do vídeo, era impossível dizer qual era o tema principal ali. Havia apenas um punhado de imagens que, em um momento tinham o foco na coisa certa, e no momento seguinte estavam completamente embaçadas novamente.

A vida em foco automático - a vida cristã em foco automático - também é assim. Sempre há várias coisas acontecendo ao mesmo tempo. E sempre há Jesus acontecendo. Se meu foco está continuamente mudando entre ele e todas as coisas novas que aparecem, no final eu terei várias imagens confusas, com o ajuste correto apenas aqui e ali. Entretanto, se eu mudo a configuração para o foco manual e cuidadosamente escolho o que colocar em primeiro plano, todo o resto vai estar no seu lugar. Todo o resto vai fazer sentido onde está.

Então eu coloco a câmera em manual. E eu já sei quem vai estrelar cada cena: Jesus. Enquanto Ele está em foco, todas as demais pessoas e situações se acomodam em seu devido lugar. Ele pode organizar um set melhor do que qualquer um. Sua presença em cena, bem de frente para a câmera, faz todo o resto ter sentido. Enquanto eu olho para Jesus, a cada momento minhas experiências se tornam um belo filme sobre uma vida que vale a pena viver, com prioridades ajustadas e uma esperança nova para todos os dias.

Hoje eu começo novamente. Eu mudo para manual. Eu aperto REC. Meu foco é Jesus. 


25 de nov. de 2012

Você pensa que eu sou surdo?

Faz um tempo que eu queria escrever sobre uma falha minha. Mas vir aqui e falar da minha culpa não faria sentido se eu não tivesse uma resposta pra compartilhar. Vou até escrever no passado, porque quero muito acreditar que isso já ficou pra trás: eu sempre pedia perdão a Deus mil vezes pelas mesmas coisas. E, por incrível que pareça, eu sabia que isso não era um bom sinal.

Muitas vezes, quando eu cometia algum erro que julgava ser grave, eu passava noites e noites, semanas e semanas, orando pela mesma coisa. Mas da última vez que isso aconteceu, eu percebi que estava indo longe demais remoendo coisas que eu já tinha colocado diante de Deus. Demorou, mas eu aprendi. E aqui está a minha conclusão.

Tornar a pedir perdão por pecados já confessados significa:

  • Trazer sobre mim uma carga de amargura que eu não preciso ter. As lembranças do pecado me prendem ao que eu fui antes de confessar a Cristo, e não refletem o que sou agora, uma "nova criatura" (1Cor 5:17). Cada vez mais percebo que Jesus prefere pecadores arrependidos a pessoas obcecadas por uma santidade inalcançável (até porque isso geralmente quer dizer religiosidade). Se você der uma olhadinha em 2 Samuel, vai ver quantas vezes o rei Davi fez bobagens. Ainda assim, ele foi chamado de homem segundo o coração de Deus (1Sm 13:14). Sabe por quê? Ele se arrependia de verdade, confessava seus erros e tocava a vida :)
  • Deixar aberta uma porta de acusação. Tudo o que o inimigo quer é me diminuir e fazer pensar que eu não sou digna do perdão do Senhor. E é verdade que eu não sou digna. Ninguém merece favor nenhum (Rm 3:23). Mas precisamos lembrar que nossa salvação vem pela graça (Ef 2:8). Quando demonstro não confiar no perdão de Deus, o diabo encontra a oportunidade perfeita pra apontar o dedo e me fazer acreditar que a misericórdia do Senhor não é pra mim. Se eu fecho essa porta, ninguém poderá me acusar (Rm 8:33).
  • Não dar espaço para as lembranças que realmente importam. Quando ocupo minha mente com pensamentos de pecados que já foram colocados diante de Deus com arrependimento sincero, eu bloqueio o Espírito Santo de me lembrar da bondade e da graça de Deus. O Senhor não quer dividir a minha mente com lembranças de amargura. Preciso escolher pensar naquilo que me fala sobre quem Deus é, e não em quem eu sou sem ele (Lm 3:21). 
  • Invalidar o sacrifício de Cristo. Esse é o ponto mais crítico, mas também o mais fácil de entender. Jesus morreu carregando os nossos pecados (Is 53:4-6). Ele mesmo disse "está consumado", ou seja, acabou. O sacrifício foi completo. Cada vez que eu ressuscito meus erros, demonstro não acreditar que o sangue de Jesus foi suficiente para me purificar.
Na última semana, acabei ouvindo novamente uma mensagem sobre esse assunto. E enquanto o pregador falava, eu pensei: cada vez que eu orava a Deus sobre um pecado que eu já havia confessado antes, ele devia sentir uma vontade de virar pra mim e dizer: "Ana, você pensa que eu sou surdo?". Lembrei logo dessa passagem:

A mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar.
Nem surdo o seu ouvido, para que não possa ouvir.
Isaías 59:1

Por que é que a gente complica tanto as coisas? Ter o perdão de Deus não é uma questão de sermos "bonzinhos"; ele já pagou o preço pelos meus erros porque me ama. E a receita pro perdão é uma só:

Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados,
e nos purificar de toda a injustiça.
1 João 1:9

Se você já confessou com sinceridade o seu erro a Deus, e já pediu a Ele ajuda para não pecar de novo, acredite: sua parte nesse trabalho já terminou. Esquece o passado, porque Ele também já esqueceu.

De novo terás compaixão de nós; pisarás as nossas maldades e atirarás todos
os nossos pecados nas profundezas do mar.
Miqueias 7:19




25 de jul. de 2012

Társis

Vamos admitir: a gente nunca quer encarar aquilo que confronta nossos medos, nossas desconfianças, incertezas... É muito mais seguro ficar em um lugar onde essas coisas não apareçam - o clichê real da "zona de conforto". E não vejo nada de estranho nisso. Afinal, nada mais humano do que a fragilidade. Nós temos a necessidade de nos sentirmos seguros, e assumimos a defensiva sempre que sentimos que algo aperta nosso calo.

Mas com Deus, a coisa muda. Somos chamados a praticar uma fé que anda de olhos fechados, porque sabe quem a sustenta. Essa confiança não se resume a uma "expectativa" de quem as coisas vão sair do jeito que a gente espera. Mais do que isso, é a certeza de que tudo coopera pro bem dos que amam a Deus (Romanos 8:28), que seus planos são maiores que os nossos (Jeremias 29:11), que sua vontade é boa, agradável e perfeita (Romanos 12:2).

Jonas foi alguém que teve o privilégio de ouvir do próprio Deus qual era o plano pra vida dele:

E veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo:
Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela,
porque a sua malícia subiu até à minha presença.

Jonas 1:1-2 

Vale dizer que Nínive era a capital dos Assírios - povo conhecido por sua crueldade. Com uma definição dessas, eu não sei se faria diferente do que Jonas fez:

Porém, Jonas se levantou para fugir da presença do SENHOR para Társis. E descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do SENHOR.
Jonas 1:3

É preciso entender que, quando a gente pede pra que Deus fale com a gente, precisa também estar pronto pra resposta. Queremos ouvir de tudo, menos "Nínive". Quando Ele fala o que a gente não quer ouvir, o impulso é de ir pra Társis, de ficar onde o mar está manso.

Társis pode ser um emprego, uma amizade, a vontade de não sair de casa, a falta de envolvimento - ou o envolvimento errado, os olhos vendados pra alguma coisa que não está bem e precisa ser consertada, o evitar de uma conversa...

Mas a história de Jonas tem final feliz. Nínive é salva e Jonas aprende uma lição de fé. Não é fácil sair da nossa cama quentinha, mas só experimenta a grandeza de Deus quem se lança no desafio.

Finalizo esse texto com uma confissão: Eu preciso sair de Társis.

4 de jan. de 2012

Verdades perpétuas

Me alegra muito saber que algumas coisas nunca terminam. Que mesmo que tenhamos motivos pra ficar cansados, tristes, desanimados, a mensagem da cruz é eterna, e eternamente linda. Que a salvação não depende do nosso humor. Que Deus não se aproxima de nós por interesse - sempre nos aceita como estamos e acredita que podemos ser melhores nEle. Que o perdão vem todos os dias, gratuito e aliviador, inesgotável. Que amor é uma condição perpétua do caráter de Deus, porque Ele é o próprio amor. Que a paz não está longe e nem inacessível, ainda que às vezes nós nos prendamos a detalhes e situações que nos tiram o sono, nos dão ansiedade e deterioram nossa alma. Que não precisamos pautar nossa vida no fidelidade humana, já que a do Senhor nos basta e é sempre infalível. Que a misericórdia de Deus é renovada a cada dia, e nós nem ficamos sabendo de quantos perigos passaram por nós sem nos tocar, tamanha é a Sua proteção. Que sou conhecida pessoalmente, com uma intimidade que não consigo nem imaginar. Que eu não preciso sair por aí gritando e batendo no peito que Ele habita em mim - se é verdadeiro, é visível.Que o Senhor é completamente justo, mas prefere agir com graça e misericórdia. Que não somos criações soltas, estamos atrelados ao Pai por sermos Sua imagem e semelhança, isso nos faz sentir abraçados e abrigados todos os dias. Que sempre é possível recomeçar e fazer diferente, mesmo que seja só entre você e Deus. Que estamos entregues a um Deus que, em todo o seu poder, escolhe ser transparente, nos mostrando e oferecendo seus planos com paciência e braços abertos.

Os anos começam e terminam, mas pra quem já tem a salvação, essas são verdades que sempre permanecem e que nos trazem conforto em qualquer situação. Não estamos sozinhos em 2012. Assim como não estivemos em 2011, 2010, 2009... O Deus que tem nos acompanhado e suprido até aqui vai continuar nos gurdando e conduzindo nossos pés através da sua vontade, que é boa, perfeita e agradável.

Feliz Ano Novo!

28 de nov. de 2011

Considerações sobre a merda


O texto que vou postar hoje é de autoria do missionário Adriano Estevam, da JOCUM.
Quero te encorajar a, por um instante, deixar de lado o nojo que a palavra causa. Leia até o fim e reflita.



____________________________________________________
Considerações sobre a merda

Merda.

Isto seria o suficiente para espantar a primeira leva de leitores. Parariam por aqui mesmo na primeira linha. Um texto que começa com merda não pode dar em boa coisa...

Mas propositadamente resolvi abordar o assunto da merda, ou talvez, a merda do assunto. Isto seria suficiente para espantar uma segunda leva de leitores : os que são impedidos de pensar em merda, e em qualquer outro assunto, apenas por causa da religiosidade pudica e malcheirosa de nossos dias.

Mas se você foi capaz de resistir a dois parágrafos, de merda, acredito que juntos podemos refletir um pouco sobre um dos mais incompreendidos mistérios de nossa breve humanidade : nossa própria merda...

Com toda certeza a merda é o mais antigo indicador "psico-social" da história humana...Se o cidadão é um canalha, é mais ruim que merda debaixo da unha; Se não é bom, é um merda; se deu errado, deu merda; se foi a bancarrota, foi a merda; se é pra ir as últimas consequências, que vá a merda; se é um derrotado, é um merdinha; se alguém estragou tudo, jogaram merda no ventilador, e pasmem, se contra as expectativas o azarão deu sorte,  é um cagão! Vejam só : para os artista, desejar merda ao companheiro pode até ser uma expressão de boa sorte antes de entrar no palco...

A merda está em todo lugar, e não é raro fazer mais diferença que muitos cristãos. Nem sempre é possivel saber quando existe um crente no lugar, mas com certeza é possivel saber, de longe até, quando há merda no recinto. Sua presença é denunciada em qualquer situação. Se você sentiu o fedor, é bem capaz de ter pisado nela, e se não pisou, ainda, alguém por perto atolou o pé. E o fedor é desagradável o suficiente para fazer perceber que naquele local existe algo que não deveria estar ali.

Tem gente que tem nojo de merda. Da própria, e principalmente da dos outros.. tem ânsia de vômito quando vai ao banheiro. Evita tocar até no assunto. Já tem gente que vive de analisar a merda alheia, pra, quem sabe, salvar o seu dono de uma merda pior. Que profissão heróica... e não creditada. Sim, porque no fim das contas você agradece, quando muito, ao seu médico que apenas olhou o laudo, e que recebeu uma boa grana pra isto.

Ouvi alguém dizer algo semelhante a isto uma vez e acho que tem realmente um certo fundo de verdade: Agências Missionárias como a JOCUM tinham que ter um ministério de "Detecção de Merda". Uma voz profética inconfundível que denunciasse a sujeira instantâneamente. Alguém que se levantasse quando o discipulador da Eted quiser aplicar uma "disciplina de silêncio" nos alunos, pra dizer, "irmão, esta disciplina não vai adiantar merda nenhuma!", ou pra dizer ao líder da base, quando ele quiser perdir dinheiro emprestado pra comprar um terreno pra Missão : "meu irmão, isto é quebra de princípio, vai dar merda..."

Deus foi muito gentil em permitir que ao nosso olfato, pecado não cheire como merda, do contrário este mundo seria inabitável. Talvez este seja exatamente o nosso problema: não ter nojo do nosso pecado, como temos nojo de nossa merda. Se tratassemos pecado como pecado, como tratamos merda como merda, aprenderiamos como Deus se sente com o nosso pecado. Especialmente porque a merda é o resultado do processo da vida... O alimento é ingerido, nutre, é processado e expelido. É natural, e involuntário... como ja disse a Rita Lee "tudo vira bosta". Já o pecado não é resultado nenhum processo natural ou involuntário. É escolha, decisão voluntária podre e suja.

Deus sempre ensinou a separar uma coisa da outra. Em Levítico 23:13, ensinando a importância da higiene no arraial, Ele ensina o povo a levar consigo uma pá para cobrir os excrementos, evitando assim a proliferação de doenças no meio do povo. Já sobre o pecado, outra ocasião Deus chama o profeta Ezequiel e diz : "Tú comerás como bolos de cevada, e a vista deles a assarás sobre o excremento humano (Ez. 4.12). O profeta reclama que nunca sequer tocou em coisa imunda, que dirá degustá-la. O Senhor então ordena ao profeta que ao invés de fezes humanas, use esterco bovino. Isto numa maneira de, entre outras coisas, simbolizar o estado de depravação da nação. O culto continuava dia após dia, embora o coração do povo estivesse corrompido. E os sacrifícios chegavam ao Senhor como oferta fétida, suja e enojante.

Embora nos ame com amor eterno, nosso pecado lhe causa asco, repulsa. E mesmo assim, quando ainda completamente envolvidos no asco, no pecado, ele nos ama, e sacrificialmente escolhe enviar Jesus, o filho para no limpar do estigma da podridão. Somente alguém que ama pode entender este mistério. Vi um pai recentemente levar sua filhinha no colo. Ela estava completamente suja, e a fralda cheia de cocô, que escorria pelas suas perninhas miúdas.

Ele gentilmente procura a torneira mais próxima, tira as roupinhas sujas da criança e com muito cuidado coloca-a, ainda em seus braços, debaixo da água corrente. Com as suas mãos ele limpa cuidadosamente a sujeira. O amor do pai pela criança fazia aquele homem ignorar o asco. Ela era mais importante que o seu estado, porém ele jamais permitiria que ela continuasse como estava.

Foi assim que Deus fez. Em seus braços o sangue de Jesus nos lava do asco e podridão. O seu amor foi maior que o nojo do nosso estado de depravação.

No dia em que aprendermos a tratar o pecado como sujeira podre, aceitaremos trocar os trapos de imundícia de nossa justiça por vestes limpas, brancas sem mácula ou ruga, vestes que só Jesus pode dar. Neste dia sim, seremos igreja e noiva, espalhando o bom perfume de Cristo.
 
Que Ele nos ajude.
Adriano Estevam

25 de nov. de 2011

Pecado em progressão

Há algumas semanas, ouvi uma palavra sobre o Salmo 1 e comecei a pensar em como a gente às vezes negligencia versículos e capítulos mais conhecidos da Bíblia. O interessante é que os decoramos justamente por terem um conteúdo importante, mas quase não se abordam esses textos em mensagens. É como se todo mundo soubesse o suficiente...

Creio que o versículo mais decorado da Bíblia seja João 3:16. Mas sabe quantas vezes eu ouvi uma mensagem sobre esse texto? Nenhuma. E sobre o Salmo 23? Também não.

Achei curioso a pessoa escolher falar do Salmo 1, e comecei a meditar nele também. Foi daí que veio o maná de hoje...

Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
Salmos 1:1

É interessante notar os três verbos das ações que, segundo o salmista, não são praticadas por esse tal homem bem-aventurado. "Não anda", "não se detém" e "não se assenta".

Sabe, não existe pecado grande ou pequeno para Deus. Mas, enquanto humanos, reconhecemos que existem coisas que ferem mais do que outras, ou que são mais graves do que outras. Nas atitudes que tomamos, nem sempre refletimos sobre os efeitos que terão depois de algum tempo, nem para onde podem evoluir, mas a verdade é que, uma vez que abrimos a porta para o erro, só a misericórdia de Deus pode fechá-la.

Começamos com "pecadinhos", que às vezes estão presos apenas aos pensamentos. No dia seguinte, não achamos que repetir a dose vá fazer tão mal. No outro mês, é um hábito diário. E em um ano estamos escravizados por um pecado que se tornou maior do que nós mesmos.

Às vezes, em nosso caminhar, ficamos tentados a andar junto dos ímpios e seguir seus conselhos uma ou outra vez. Depois, já mais hipnotizados pelo mundo, nos detemos, paramos diante das trevas, admirados, seduzidos. Em um outro momento, nos assentamos e nos entregamos. Admitimos a entrada total do pecado nas nossas vidas, e seu domínio sobre nós.

Se você está andando segundo o conselho dos ímpios, resista à tentação de parar para ouvi-los. E se você já parou, ore por misericórdia para que Deus te livre antes que você se assente na roda dos escarnecedores.

1 de nov. de 2011

Altares vazios

Sempre gostei de história e, particularmente, da história das civilizações clássicas - Grécia e Roma antigas. Acho incrível o fato de aquelas sociedades terem conquistado tanto domínio apenas com a arma do conhecimento. Eram lugares que prezavam pelas ciências e pela sabedoria, onde as pessoas eram incentivadas a buscarem seu desenvolvimento intelectual e artístico, onde havia lugares de discussão sobre a vida, as relações humanas, os direitos... Imagino a cabeça dos gregos e romanos antigos eferverscendo de conhecimento e de vontade de conhecer mais.

A Bíblia narra uma história que se passou em Atenas, um dos berços da cultura ocidental. A situação aconteceu quando o apóstolo Paulo foi discursar no Areópago - a reunião dos membros da aristocracia ateniense. Ali estavam os homens mais influentes e sábios daquela civilização, gente realmente importante e tratada com privilégios muito particulares. A Bíblia descreve assim:

E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: "Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos. Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio."
Atos 17:22 e 23

A ousadia dessas palavras me fascinou desde a primeira vez que li o texto. Como alguém que sempre admirou tanto aquela cultura, nunca imaginei que um cidadão comum pudesse falar daquele jeito com pessoas tão nobres! Mas não é o modo inteligentíssimo como Paulo falou que se destaca nessa passagem. É a sabedoria inspirada pelo Espírito Santo pra mostrar aos Atenienses uma realidade que eu também entendi: Há, em cada um de nós, um desejo por Deus que só pode ser preenchido pelo próprio Deus.

Mesmo sendo admirados por todo o seu conhecimento, aqueles homens tiveram que admitir que, apesar de todos os seus deuses, ainda havia uma lacuna. No auge da sua sabedoria, eles não se sentiam completos, saciados, inteiros, porque o lugar que pertence a Deus estava vazio na vida daquelas pessoas.

Todos nós somos assim. Temos um altar vazio. Se não encontramos o único que pode preenchê-lo, o único digno de adoração e louvor, passamos o resto de nossas vidas tentando encaixar outras coisas nesse altar. É daí que vêm os pecados mais escravizantes, como a idolatria. Ficamos dependentes de uma adoração irracional, para tentar convencer a nós mesmos de que estamos plenos. Por que será que as pessoas "mudam" tanto de religião? Por que tem gente experimentando de tudo, de qualquer seita? Por que se ouve tanto falar em "força superior"?

Como crentes, nós precisamos enxergar que as pessoas estão gritando, chorando pra que seus altares sejam preenchidos por Deus. Mas elas não sabem disso! E isso precisa mexer conosco, nos angustiar, nos fazer sentir obrigados a mudar essa história. A dar um testemunho tão contundente a respeito do Senhor, que elas percebam que é isso que falta em suas vidas.

Que nosso objetivo seja que fazer com que, na vida dessas pessoas, o Senhor passe a ser um Deus conhecido, adorado, exaltado como Ele merece. O único capaz de preencher nosso vazio.

E deixo vocês com a parte seguinte do discurso inspirador de Paulo...

O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens;  nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas; e de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação;


Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós; porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.


Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens.  Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do homem que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos.